À primeira vista, tudo parece igual.
O sol atravessa a janela com a mesma preguiça das manhãs anteriores, a chaleira apita sua canção de vapor, e a vida segue seu curso invisível — pequenas rotinas, pequenos esquecimentos.
Mas há algo diferente no ar.
Algo que não se mede em relógios, nem se conta nos afazeres do dia.
Dentro do corpo, um movimento silencioso se arma: como sementes que germinam no escuro, como marés que sobem sem que ninguém veja. É o ciclo — o velho sábio… que não seja imortal posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure… ciclo, esse foi um pensamento intrusivo, gracias natureza pela menopausa, se nota que escrevo menstruando — gestando novos mundos sob a superfície tranquila do cotidiano.
Enquanto dobro roupas ou respondo mensagens, meu corpo orquestra uma revolução invisível.
O estrogênio, discreto como o broto de uma árvore, começa a subir, costurando minha energia com fios de renovação. Meus pensamentos ganham leveza, a criatividade se espreguiça depois do inverno interno, e uma sensação de recomeço nasce sem aviso.
Em poucos dias, gradualmente, a maré mudará de novo.
O pico da ovulação me transforma em rio aberto: mais conversadeira, mais sensível às presenças, mais disposta a atravessar o mundo de fora. Minha pele captura o cheiro da terra depois da chuva, meus olhos veem beleza onde antes havia distração.
E então, quase como um sussurro, o tempo começa a recolher suas asas.
A progesterona sobe, tecendo uma névoa macia ao redor dos meus sentidos. As tarefas práticas exigem mais esforço. O que quero — sem saber nomear — é voltar para dentro, construir ninhos, silenciar a urgência, respirar devagar.
É observando esses movimentos, tão íntimos e tão vastos, que compreendo: o ciclo não é apenas sobre sangrar ou não sangrar. É uma dança inteira de hormônios e comportamentos. É um espelho do que floresce e do que recolhe dentro de nós, mesmo quando a superfície da vida parece imutável.
Escrever é um desague. Criar é um refúgio.
Registrar é lembrar. Observar. Analisar. Rever. Recalcular a rota com o seu GPS interior.
Isso é o que uma mandala menstrual pode fazer por nós. É a forma mais simples e mais profunda de enxergar esse labirinto jardim secreto.
Cada marcação na mandala é um rastro da minha própria maré: dias de expansão, dias de retração, dias em que o corpo pede vento, dias em que suplica por raízes.
E os pequenos ritualitos botânicos…. hmmmm é neles que descubro a ponte entre o invisível e o tangível: um chá de alecrim para clarear a mente nos dias de florescimento, um óleo de lavanda para abraçar o cansaço nos dias de recolhimento, um banho de rosas para lembrar o corpo da sua beleza e leveza.
Esses gestos, tão pequenos, tão simples, abrem clareiras dentro de mim.
E percebo: há mundos inteiros sendo gestados embaixo do cotidiano.
Mundos que não aparecem nas listas de tarefas.
Mundos que não batem ponto.
Mundos que só florescem quando temos a coragem de voltar a ouvir.
Eu sei que tudo isso acontece por ai também, mas que nem sempre damos atenção, porque temos outras prioridades. Mas mesmo assim vou te dar esse presente, na esperança que ele seja uma chamado doce, para voltar a ti…
Escrevi esse eBook “Mandala Menstrual e Ritualitos Botânicos” para ser um mapa e um abrigo nessa travessia.
Ele é gratuito, feito de ciência e de poesia, de corpo e de alma.
Um convite para você também gestar seus próprios mundos internos.
Com afeto,
Andressa
Antes de que eu me esqueça:
Me conta como tem sido a tua experiência com a nossa casa escrita “coisas que crescem no escuro”?