Conheci As Tigresas Brancas há muitos anos, em uma viagem de trabalho. O livro chegou até mim pelas mãos de uma mulher muito amada, Tânia Salgado, que tem um trabalho belíssimo com a dança e a saúde feminina. Naquela época, eu estava mergulhada em um estudo sobre movimento somático, e estava oferecendo um workshop intitulado: Orgasmo: Vida, Êxtase e Saúde, e Tânia me recebeu em sua casa com aquela generosidade que só as mulheres sábias possuem.
Nos conectamos imediatamente. Era raro, naquela época, encontrar alguém que falasse abertamente sobre sexualidade como um caminho de cura, como um eixo central da saúde. Trocamos histórias poderosas, daquelas que ficam gravadas na pele. Conversas que, mesmo depois de anos, ainda reverberam dentro de mim.
Acho maravilhoso quando podemos trocar tão profundamente com pessoas que conhecemos tão pouco. A intimidade e o vínculo se dão com tanta riqueza e abundância. Às vezes, não são relações cotidianas, mas sempre que penso em Tânia, abro um sorriso de orelha a orelha.
E foi dela que recebi o livro que abriria mais uma porta na minha jornada.
As Tigresas Brancas eram mulheres que dominaram a arte da energia sexual feminina como fonte de vitalidade, magnetismo e transcendência. Elas compreendiam algo que a maioria de nós esqueceu: o prazer não é um luxo, mas um caminho de poder. Quando a energia vital é cultivada com consciência, ela não apenas regenera o corpo, mas também ilumina a alma.
Quantas de nós, no entanto, fomos ensinadas a temer essa força?
A esconder nossos desejos embaixo de lençóis de culpa, a abandonar nosso corpo à exaustão do dia a dia, a ver o prazer como algo a ser negociado, em vez de um direito inalienável da nossa existência?
A energia da Tigresa é um chamado de volta para si. Para a mulher que deseja reviver seu próprio corpo, acordar seus sentidos adormecidos e caminhar pelo mundo com uma confiança que emana de dentro. Uma mulher que compreende que vitalidade é estar atenta e presente em tudo o que vive — e que isso exige ousadia.
Este é um convite para lembrarmos que o êxtase também é alimento, que o prazer tem poder curativo e que, no fundo, toda mulher traz em si uma chama inextinguível—basta reavivá-la.
A sexualidade não é só um lugar de prazer — é um lugar de reconhecimento de si, um caminho que nos convida a mergulhar no mistério do próprio corpo, da própria psique. Um jeito de explorar a vida por dentro e por fora. Uma linguagem para sentir o mundo sem filtros. Através dela, podemos visitar os extremos: o escuro mais denso e o branco mais ofuscante. Podemos ser selvagem e serena, voraz e silenciosa, abrigo e tempestade.
E no vai e vem entre essas margens, descobrimos os tons de cinza. Os matizes da existência. As nuances daquilo que somos, para além das caixinhas. Para além dos papéis.
Cada experiência sexual, íntima, corporal, cada experiência de exploração da vida, da criatividade, da expressão, quando vivida com completude, é uma oportunidade de nos reconhecermos. De perceber que o centro não é um ponto fixo, mas um lugar que se desenha quando temos coragem de ir aos limites, ou pelo menos de colocar o pé na borda. Ousar habitar a própria verdade.
Viver no centro não é viver controladamente, mas sim, habitar sua existência com suas próprias referências. Entender o que funciona para ti e porque.
Essa é a sexualidade que me interessa. A que nos devolve a nós mesmas. Aquela que não se reduz ao ato, mas se expande como força vital, pulsante, misteriosa e corajosa.
Que seja pela via do toque, do movimento, do desejo ou do silêncio — que você possa se permitir explorar. E, mais do que isso: se permitir reconhecer, se ampliar, se desejar mais e mais.
Acredito eu que a vida é essa dança entre opostos. E o corpo… é o palco sagrado onde tudo acontece.
Hoje, ao longo do seu dia, respire fundo e pergunte-se:
Onde a minha energia está estagnada?
O que meu corpo deseja, mas eu não tenho permitido?
Que pequena faísca de prazer posso acender em mim agora?
Pense também em como te trazer de volta pro corpo: Porque a cura acontece não apenas no que fazemos, mas na forma como vivemos, tocamos, sentimos e nos movemos pelo mundo.
Talvez a Tigresa dentro de você esteja apenas esperando ser chamada pelo nome.
Talvez ela sempre tenha sido essa mistura indomável de vitalidade, mistério e ousadia.
Com carinho,
Andressa