Semana passada fui tomar um café com uma amiga, numa das padarias mais antigas da cidade. Daquelas que carregam o cheiro da infância e os encontros de gerações. O balcão de 26 anos de idade, as mesmas 6 atendentes de sempre, o barulho de xícaras tilintando como sinos domésticos. A gente sentou num cantinho sem janela, mas na padaria a luz parece que sempre entra macia, e o tempo parece mais lento e desfrutável.
Ela chegou com os olhos cheios de alguma coisa que ainda não tinha nome.
Disse que queria conversar, mas não sabia bem sobre o quê. Que andava com a cabeça cheia de ideias novas. Que tinha vontade de começar algo, mas não sabia por onde. E então, depois de um gole de chá, ela perguntou:
“Mas a gente começa fazendo do nosso jeito ou usa algum modelo que já existe?”
Fiquei em silêncio por alguns segundos. Não porque não soubesse o que responder — mas porque senti o peso exato da pergunta. Ela não queria uma fórmula. Queria motivação. Queria saber se era loucura dar início a algo sem garantias, sem manual, sem um “caminho certo”.
Eu sorri. Porque já estive exatamente nesse lugar — o da vontade que ainda não tem forma, da ideia que ainda não encontrou sua estrutura.
Disse pra ela que sim, é possível começar do nosso jeito.
Que muita coisa nasce no improviso, no intuitivo, no ritmo interno que cada uma de nós carrega.
Mas também acrescentei: às vezes, seguir um caminho já trilhado ajuda.
Não precisamos inventar a roda toda vez.
Podemos estar abertas aos jeitos que funcionam — sem perder o nosso jeito.
E podemos, se quisermos, aprender mais devagar, tropeçando com dignidade, respeitando o tempo do nosso terreno.
Também frisei: tudo o que a gente quiser construir, vai ter que ser construído.
Simples assim — e tão brutal quanto.
Não vai acontecer milagrosamente.
Ninguém vai bater na tua porta dizendo:
“Eu li teus pensamentos, entendi teu sonho, tua visão, teu medo… e aqui está, prontinho.”
Não vai vir feito.
Não vai vir pronto.
E é justamente por isso que vale a pena.
Porque quando começa, algo em ti também começa.
E não importa se é torto, incerto, desajeitado.
Começar é um verbo que precisa ser conjugado com as mãos.
Com o corpo presente. Com a alma disposta.
Começar do nosso jeito é, muitas vezes, o único jeito possível.
Tudo depende do que queremos construir.
Depende de onde queremos chegar.
E, principalmente, de como queremos nos sentir no processo.
Desde aquela conversa, fiquei com a imagem da terra na cabeça.
Porque cada escolha é como uma semente.
E toda semente precisa de solo. Precisa de tempo. Precisa de cuidado.
Tem quem plante seguindo a lua.
Tem quem confie na intuição do cheiro da terra molhada.
Tem quem siga a cartilha.
Tem quem invente sua própria dança com as estações.
E todas essas formas são válidas — desde que façam sentido pra quem planta.
A gente esquece, às vezes, que o começo quase nunca é claro.
Mas a vontade de começar já é o próprio caminho abrindo passagem.
Você é terra boa para tudo que quer nascer.
Mesmo que ainda não saiba o nome do que está brotando.
Mesmo que ainda não tenha escolhido entre o mapa ou a bússola.
Mesmo que caminhe com dúvidas — mas com o coração disposto.
A terra te escuta.
E já está acontecendo.
É preciso confiar no movimento da seiva.
Vou repetir: Você é terra boa para tudo que quer nascer.
Mesmo que ainda não saiba o modelo certo.
Mesmo que o impulso pareça pequeno diante da imensidão do mundo.
Se existe vontade, disposição e ímpeto — esse é o caminho natural de quem constrói.
Respira.
Escolhe uma semente.
E planta.
A terra sabe o que fazer.
E nunca é demais dizer que estou aqui. Se ao ler essas palavras você sentiu algo se mexer aí dentro — uma ideia, uma vontade antiga, um projeto ainda sem nome — saiba que pode me escrever.
Aqui é um lugar seguro para compartilhar o que está nascendo em você.
Não precisa estar pronto. Não precisa ter forma. Só precisa ser verdadeiro.
Se quiser conversar, desabafar ou pedir ajuda para estruturar algo que está crescendo aí dentro, é só me chamar.
Estou aqui, de mãos e ouvidos abertos, para te acompanhar no que for preciso.
Afinal, você é terra boa.
E eu acredito nas sementes que você carrega.
Te abraço cariñito, Andressa.
Te sirvo um mate?
Aaaaaaah Dediiii! Amo tua capacidade de desenhar em palavras aquilo que se move no escuro. Que prazer te ler — esse texto, nesse momento, em especial.