Feita de Crise
Nem tudo que parece pequeno é insignificante. Às vezes, é só uma rainha em construção.
A rainha não nasce pronta — ela é feita.
Li uma vez sobre isso e fiquei com aquilo martelando na cabeça: como um inseto tão pequeno pode guardar um segredo tão imenso?
Quando uma colmeia perde sua rainha, tudo para. Literalmente. A organização se desfaz, a produção cessa, e o tempo da colmeia começa a se esgotar. É como se o relógio biológico da colônia entrasse em contagem regressiva.
Mas aí vem a parte inacreditável: as abelhas não surtam. Não buscam ajuda de fora. Elas se organizam. Com método, clareza — e intenção.
Elas escolhem algumas larvas — nada especiais à primeira vista, apenas mais umas entre tantas — e iniciam um processo que muda tudo. Essas poucas passam a receber algo raro: a geléia real. Uma substância produzida por abelhas nutrizes, rica em proteínas, vitaminas e compostos bioativos.
É alimento real, no sentido mais puro. Um elixir biológico que reprograma tudo. Aquela larva comum, alimentada de forma diferente, se transforma. Cresce mais. Vive mais. Torna-se outra coisa. Torna-se a única capaz de restaurar a vida da colmeia.
A rainha não nasce rainha. Ela é construída. Por decisão. Por nutrição. Por um sistema que aposta no poder de transformar. Com uma demonstração extraordinária de inteligência coletiva e instinto profundo, elas se adaptam.
E isso diz muito.
A genética dela é a mesma das outras. O que muda é o que ela recebe. O que muda é o cuidado, o ambiente, a intenção ao redor.
Dá pra aplicar isso fora da colmeia, né?
Num mundo que vive exaltando talento nato, talvez a resposta esteja no que cultivamos. No que alimentamos nos outros — e em nós mesmos. No cuidado que damos, nos recursos que oferecemos, nas escolhas que fazemos nos momentos difíceis.
Porque às vezes, o que parece o fim de um ciclo, é só o começo de uma transformação. E não é mágica. É intenção.
As pessoas mais grandiosas e interessantes que conheço, assim como as abelhas rainhas, não aparecem prontas. São criadas, moldadas com cuidado, em resposta à necessidade.
Na crise, nasce uma decisão. E com ela, a chance de refazer destinos.
A gente não nasce incrível, brilhante ou cheio de dons mágicos. Mas dá pra ser cultivado nisso. Dá pra aprender. Dá pra crescer. Com o alimento certo. Com incentivo. Com o ambiente adequado.
Talvez o verdadeiro poder não esteja em nascer com talentos, mas em treinar isso, alimentar isso — e, sobretudo, atravessar as crises com a visão do que pode florescer do caos.
Escrevi mais sobre essas pessoas incríveis nesse texto aqui: gente esquisita, se tu ainda não leu, eu recomendo!
Te abraço Rainha, e espero que te nutras com o que é importante.
Carinhos, Andressa.